O Caminho da Beleza 25 Leituras para a travessia da vida “A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010). “Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16). III Domingo de Páscoa 08.05.2011 At 2, 14.22-33 1 Pd 1, 17-21 Lc 24, 13-35 ESCUTAR “Deus ressuscitou esse mesmo Jesus e disso todos nós somos testemunhas. E agora, exaltado pela direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai e o derramou, como estais vendo e ouvindo” (At 2, 32-33). “Se invocais como Pai aquele que, sem discriminação, julga a cada um de acordo com as suas obras, vivei então respeitando a Deus durante o tempo de vossa migração neste mundo. Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais não por meio de coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito” (1 Pd 1, 17-19). “Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía. Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. Então um disse ao outro: ‘Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?’” (Lc 24, 30-32). MEDITAR “Deus come os corações com alegria: queres dar-lhe um banquete? Oferece-lhe o teu coração! Ele o apreciará eternamente” (Angelus Silesius, O Peregrino Querubínico). “O Senhor Jesus Cristo esteja junto de ti para te proteger: à tua frente para te conduzir; atrás de ti para te guardar; acima de ti para te abençoar. Ele que com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina pelos séculos. Amém.” (Antiga benção monástica aos enfermos, séc.VI). ORAR O nosso crescimento pascal passa por Emaús, lugar dificilmente identificado na geografia física, mas facilmente identificado na geografia eclesial. É no vai e vem de Jerusalém a Jerusalém que o Ressuscitado se desvela aos dois discípulos pela interpretação das Escrituras e pela fração do pão. O itinerário de Emaús é itinerário tanto da iniciação cristã como o da celebração litúrgica. O caminho de Emaús nos faz confrontar uma das realidades mais comuns e desvalorizadas da vida cristã: a cegueira do coração. As explicações mais convincentes não são as que sacodem nosso cérebro, mas as que levam fogo ao coração e só podemos dizer que a palavra de Deus foi escutada e que ilumina o caminho quando faz arder o nosso coração. Pedro nos conclama a antecipar o futuro com um estilo de vida peculiar: interpretar, cotidianamente, a própria existência como uma transformação permanente, um êxodo que nos faz superar o conformismo mimético que nos reduz a um cristianismo vulgar e repetitivo. Celebramos a Páscoa do Ressuscitado não porque fomos confessar e comungar ao menos uma vez por ano, mas porque nos encontramos impossibilitados de voltar atrás assim como aconteceu aos judeus quando o Mar Vermelho se fechou, definitivamente, às suas costas. Emaús somos nós a caminho: ricos em informação, mas precários para compreender e interpretar o seu significado. Cléofas e o seu amigo contam a história do Cristo exatamente como aconteceu, mas parece uma narrativa na obscuridade, uma história de uma grande ilusão, quando esta história é lida à margem da luz da Ressurreição: “Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas apesar de tudo isso, já faz três dias que essas coisas aconteceram”, ou seja, “Lástima que tudo tenha terminado assim”. Eles só falam de Sua morte e como tudo se acabou com ela e nem suspeitam de uma outra realidade possível. O caminho de Emaús nos revela que a eucaristia não tem um sentido individualista e muito menos pode se tornar uma evasão espiritualista para as nossas questiúnculas pessoais. Os dois que caminham em Emaús haviam se separado da comunidade, mas por sorte Jesus nos alcança quando nos afastamos e nos encontra quando fugimos. A Igreja de Jesus não é um grupo reunido para fins humanitários, não é uma entidade de serviço, nem uma ong para ideais filantrópicos ou para atrair serviços voluntários. A comunidade eclesial se reúne e se congrega em torno de uma pessoa: Jesus Cristo. Somos chamados, como comunidade celebrante, a assumir um compromisso de justiça e solidariedade na construção de uma sociedade onde o pão não seja roubado pela violência e nem sonegado pela injustiça e pela ganância. O caminho de Emaús nos revela que a hospitalidade é o sinal da fraternidade e ela nos impele ao exercício e à prática do amor: “Não esqueçais a hospitalidade, pela qual alguns, sem o saber, hospedaram anjos” (Hb 13, 2); “Eu era forasteiro e você me acolheu” (Mt 25, 35). Apesar de tudo, somos preguiçosos diante da graça da hospitalidade e, no entanto, o reino de Deus é uma grande festa de bodas em que todos são convidados para comer e beber gratuitamente. São Gregório Magno nos interpela: “Devemos acolher com hospitalidade o Cristo presente no forasteiro para que no dia do julgamento Ele não nos ignore como estrangeiros, mas nos receba como irmãos em seu Reino” (Homilia 23). CONTEMPLAR Emaús, Cláudio Pastro, Brasil.
Imagens do Sagrado Claúdio Pastro A seguir, mostramos um pouco da obra do brasileiro Cláudio Pastro, que está toda baseada nas pr...
De família capixaba religiosa, foi preciso ingressar no seminário para reconhecer sua grande vocação no serviço à Igreja Católica! Em entrevista ao ARQSAGRADO, o artista sacro Romolo Picoli Ronchetti fala sobre o que pensa a Igreja Católica Contemporânea sobre a arte, e os novos rumos da estética religiosa do século XXI. Romolo trabalhando no painél do altar da Igreja Paroquial N.S. de Sabara. Dioces de Santo Amaro. 1 – Seu trabalho carrega traços que revelam seu grande conhecimento na doutrina cristã-católica. Como aconteceu essa aproximação com este tipo muito particular de arte? A vida de quem se deixa conduzir por Deus toma muitas vezes rumos para muito além de nossa imaginação! Quando eu estava terminando o Ensino Médio numa pequena cidade da zona rural do Espírito Santo (Marilândia), meu objetivo era estudar Física ou Matemática no Ensino Superior, e eu estava me preparando para isso... Inesperadamente um padre com tradições monásticas muito fortes assume a paróquia, e ao visitar minha família, convida-me para passar alguns dias, juntamente com outros jovens, em retiro de oração e meditação. Essa experiência foi decisiva na minha vida, e ascendeu em meu interior um interesse muito grande pela espiritualidade: decidi entrar no seminário! Incentivado por dois amigos, que hoje são padres, vim parar em São Paulo com 16 anos, para cursar o primeiro ano de Filosofia na Diocese de Santo Amaro, onde fiquei até quase terminar a Teologia. Saí do seminário e fui morar com o Pe. Samuel Pereira Viana, que considero o grande incentivador do meu trabalho. (...) Intelectual de primeira grandeza, iniciou-me no mundo da arte colocando-me para pintar uma Virgem com o Menino. (...) Daí por diante eu comecei a estudar História da Arte por conta própria e por incentivo desse padre comecei a arriscar algumas pinceladas! Nesse ponto todos os processos da minha vida fazem sentido: deixei as Exatas para dedicar-me às Humanas; entrei no seminário e tive contato com a Liturgia, Direito Canônico, Teologia; fui morar numa paróquia e comecei a pintar. E aqui estou eu, usando os conhecimentos teológico-litúrgicos para servir à Igreja e melhorar a cada dia meu trabalho como artista sacro. Detalhe do painél da Paroquia de Santa Luzia, onde o artista imprimiu sua propria estética. 2 – Dentre todos os murais que você já desenvolveu, qual foi o mais importante e por quê? Para todo artista o melhor trabalho que ele já realizou é sempre o último. Para não deixar a pergunta numa vazia curiosidade, cito como um trabalho muito importante pra mim o que realizei na Paróquia Santa Luzia, Diocese de Santo Amaro. Todo artista sempre começa como copista de outro, e assim também se deu comigo, e cito esse mural, pois nele eu arrisquei todas as minhas fichas elaborando um trabalho particularmente meu. Esse trabalho é muito querido porque foi nele que apresentei o meu estilo, meu traço, minhas cores ao mundo e onde consegui realizar o objetivo da arte sacra: a transcendência e a veneração. Essa igreja fica num bairro muito castigado pela desigualdade social, mas quando se entra na igreja a impressão que se tem é de estar em outro mundo. A atmosfera é outra, todo o espaço convida à oração e ao encontro com o Sagrado. Ali não existem diferenças, existe Unidade, consigo mesmo, com o outro,e com o Sagrado. Detalhe do painél da Paroquia de Santa Luzia, onde o artista imprimiu sua propria estética. 3 – Quem são seus mestres? Onde você busca referencias ou inspiração para a elaboração de seus painéis? O único artista que até hoje foi capaz de criar a partir do nada é Deus, todos os outros são produtos do meio, da época, do subjetivo! Meu trabalho não seria diferente. Sou profundo admirador de dois grandes artistas brasileiros e tenho muitas influencias deles na cor e no traço: Cláudio Pastro e Lázaro Aparecido Diogo. Eles são os verdadeiros pais da minha arte. Mas devo confessar a influência muito clara que tenho da Antiguidade Cristã, da iconografia clássica: todo o figurativo do meu trabalho é uma releitura, uma inspiração na imagem de tradição iconográfica. Faço assim por ter a convicção de que esta tradição representa muitíssimo bem o Humano no âmbito da arte sacra, estando bem posicionada entre o real e o ideal; não é uma abstração nem um realismo, esta exatamente entre o Céu (o Sagrado, o Espiritual, o desprovido de formas) e a Terra (o humano, o carnal). Na composição dos meus trabalhos, uso ainda estudos particulares de outros dois artistas que admiro: Van Gogh (nas cores e na força da pincelada, na ausência de medo e sem pretensão de agradar) e Portinari ( na desconstrução do espaço, na geometrização, na expressividade). Tendência à verticalidade na obra de Romolo P.Ronchetti. Painél da Igreja N.S. do Sabara, na Diocese de Santo Amaro. 4 – As forma de arte que você desenvolve nos traz referencias na arte bizantina, pela longevidade dos rostos e tendência á verticalidade por intermédio das formas geométricas, sejam retângulos ou elipses. As primeiras representações deste tipo, aqui no Brasil, segundo meu conhecimento foram elaboradas para igrejas ou capelas de ordens jesuíticas. Algumas ordens são mais abertas a este novo tipo de pintura mural, outras mais fechadas. Isto é realidade ou um mito? A Igreja Católica por completo está aberta ao “novo”, no que diz respeito às novas tipologias arquitetônicas ou artísticas? Em toda a História, a Igreja sempre foi a grande incentivadora das Artes e das Ciências, mas também nunca pôde pôr de lado a Moral e a Teologia. Hoje o mesmo se dá: a Igreja incentiva a arte contemporânea, mas nem tudo serve como arte sacra.(...) Assim como qualquer instituição séria, a Igreja possui princípios e normas, e no que diz respeito à arte eles não são nem um pouco rígidos, e a partir deles dá para afirmar que todo artista sacro é um artista plástico, mas nem todo artista plástico é um artista sacro! Toda a Arte Sacra Cristã tem uma razão de ser, ela brota da Revelação e esta a serviço da Liturgia, portanto a forma não pode estar desprovida de conteúdo e o artista deve ter um conhecimento teológico, bíblico, para que seu trabalho não seja um corpo sem espírito. Existem sim, alas conservadoras que vivem da reprodução do passado artístico, mas de uma forma geral, a Igreja está aberta ao 'novo'. Contudo não podemos cair na ilusão de pensar que ele pode ser qualquer coisa, precisa ser condizente com o espírito da Instituição, com sua missão: se nas formas do 'novo' estiver o conteúdo da Revelação, a Teologia Cristã, o espírito Litúrgico, certamente haverá o reconhecimento, a Verdade, a presença do Invisível, a veneração; e aí certamente a Igreja irá acolher e incentivar como Arte Sacra. Existem, evidentemente, escolas, faculdades, instituições que são de iniciativa de Ordens Religiosas Católicas que incentivam a produção da Arte contemporânea nos mais diversos setores (moda, arquitetura, artes plásticas, artes cênicas, arte digital...) mas nem tudo que é produzido serve para ser Arte Sacra. Detalhe do painél na Igreja Paroquial do Sagrado Coração de Jesus, em Boiçucanga. 5 – Muitas vezes o trabalho mural pode ser encarado como mera decoração do interior de igrejas. Contudo, os novos projetos dos templos católicos são tão complexos que a referencia ao sagrado fica difícil de ser reconhecida se não pelo contato com a pintura ou arte decorativa. Em algumas igrejas, a estatuaria foi substituída por decorações nas paredes, bem à maneira das igrejas ortodoxas, ou mesmo de paredes islâmicas ou hindus. Como você entende a importância de sua arte neste período em que o interior das igrejas está sendo “desnudado”? O trabalho mural nos templos cristãos sempre teve uma função pedagógica e catequética: por meio da imagem ensina-se algo da Revelação de Deus, ou da vida eclesial. A falta do reconhecimento que você denuncia nessa questão esta justamente na ausência do conteúdo como elemento primordial na arte autenticamente sacra. Algumas igrejas têm formas muito boas, complexas, mas carecem de conteúdo, não possuem referência ao sagrado, são apenas fruto de uma técnica muito rebuscada em que o objetivo é a autoafirmação de um ego idolátrico. Quanto ao desnudamento no interior do espaço sagrado observado hoje, ele é fruto de uma busca do Centro. Com o passar do tempo os templos cristãos foram tornando-se palco de manifestação de uma religiosidade subjetiva, devocional; fiéis e clérigos piedosos – bem intencionados, mas mal orientados e com gosto duvidoso – foram enchendo as igrejas de imagens de santos, Madonas, anjos, rendinhas, paninhos, flores artificiais e a lista prossegue assustadoramente, tudo isso desordenadamente! Hoje o que vemos nas reformas e construções de novas igrejas, é a referência primeira que dá vida e força para uma autêntica vida eclesial, que dá sentido à vida espiritual. O mundo moderno é cheio de informações, imagens diversas; o templo deve ser o lugar da transcendência, o lugar do Encontro, do Reconhecimento, e nesse sentido o Vazio é visto como o lugar onde habita o Sagrado. No Espaço Sagrado tudo é meticulosamente planejado para não se perder justamente o Centro: Jesus Cristo, o centro e a plenitude da Revelação de Deus; o rosto humano pelo qual Deus se mostra ao Homem. A partir desse Centro que todos os elementos devem ser organizados . Agora, quando o 'desnudamento' não é seguido de uma nova 'roupagem', ou seja, quando a retirada das imagens tem por objetivo o Vazio por ele mesmo, não esta condizendo com os princípios cristãos da arte, pois a arte cristã tem seu centro no Deus que se fez Homem, e não no Deus invisível do Antigo Testamento. Por isso, a importância que vejo no meu trabalho nesse processo atual de 'desnudamento', é dar a 'roupa nova', é tirar o velho e pôr algo novo no seu lugar, é ressaltar o que realmente é o Centro, o Foco , no culto e na vida eclesial. Entendo que um templo vazio e carente de referências simbólicas, é como um homem diante de várias opções de caminhos: sem saber aonde quer chegar, qualquer lugar leva a lugar nenhum. Meu trabalho é mostrar o caminho, é convidar à oração, e facilitar a liturgia. Mural na Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em São Carlos. 6 – Seu trabalho contribui muito para situar determinadas igrejas em um contexto arquitetônico mais contemporâneo, haja vista as intervenções em edificações de meados do século XX. Você já foi alvo de criticas por parte de grupos mais tradicionalistas da igreja? As críticas sempre existem, e muitas vezes nos fazem crescer. Sou constantemente alvo de duras críticas, mas todas elas são as chamadas 'críticas de gosto' , particulares, e não de grupos . Estão sempre no nível do subjetivo, do gosto sem justificativa: não gosto de vermelho, não entendi esse monte de quadrados, esse anjo tem asas muito grandes! As críticas mais teóricas, feitas por pessoas que defendem no nível mais conceitual determinados estilos de arte ainda não chegaram ao meu conhecimento e quando chegarem certamente vou utiliza-las para o crescimento do trabalho que faço. Painél da Comunidade de Santa Rita de Cassia. 7 – Quais são seus novos desafios? Existe algum trabalho ou algum ícone religioso que você deseja pintar ou esculpir futuramente? Trabalhar com Arte Sacra já é por si mesmo um grande desafio! Deixar de lado a autoafirmação para poder desenvolver um trabalho sólido, com conteúdo, guiado pelo Espírito Santo é sempre uma tarefa árdua! Podem considerar espiritual demais nessa afirmação – em alguns momentos até concordo que seja! –, mas se o artista sacro não tem intimidade com o objeto de sua arte, se ele não tem vida espiritual, dificilmente conseguirá desenvolver um trabalho que leve o espectador à experiência do sagrado. E aqui faço uma revelação em tom muito confessional: sabe qual é o grande desafio , diante do qual eu sempre tremo? Pintar o rosto de Cristo! Pra mim é sempre uma responsabilidade muito grande tornar visível o Rosto do Amor, o rosto diante do qual muitos vão derramar suas lágrimas pedindo ajuda, diante qual doentes vão pedir a cura para suas doenças, pessoas deprimidas vão buscar consolo, mães vão rezar pelos seus filhos! Confesso, sempre paro e fico muito tempo em silêncio , percebo o quanto sou indigno de realizar essa tarefa, é onde acredito piamente na força do Espírito Santo, pois sem Ele meus Cristos estariam todos com o rosto em branco... Cristo. Painél da Paróquia de São João Maria Vianney, Santo Amaro 8 – Finalizando, pediria a você um conselho para os leitores do blog que admiram sua arte e pretendem desenvolver um trabalho da mesma importância para trazer cada vez mais a religião católica aos tempos atuais. O conselho que dou para quem quer desenvolver um trabalho autenticamente sacro é educar o olhar e preparar o espírito: estudar História da Arte Sacra Cristã, ver como a arte foi feita e como se desenvolveu na história, seus símbolos frequentes, como a forma e o conteúdo se harmonizam. Estudar liturgia, seus tempos, seus movimentos, seus gestos e símbolos. Ter contato com a Palavra de Deus e com a Teologia, sem elas não existe Arte Sacra ; cultivar uma vida de oração saudável, ela ajuda muito a técnica desenvolver-se. Colocar a Arte Sacra Cristã para dialogar com a cultura contemporânea não significa abandonar a Tradição, esquecer o passado, deixar de lado os próprios princípios e símbolos, mas sim, usar o que de melhor existe na contemporaneidade para melhor exprimir o Mistério de Deus, que está sempre para além dos conceitos, fórmulas, teorias, estruturas, mas sempre acessível pela Arte! Projeto para a fachada externa da Paróquia de São Paulo, Diocese de Santo Amaro. Para saber mais sobre o trabalho de Romolo, clique aqui
Aux lectrices et lecteurs de Medjupedia, avec ma gratitude pour leur encouragement et leurs prières, un très Joyeux Noël centré sur l’origine et le déploiement d’un profond mystère. Lou…
Imagens do Sagrado Claúdio Pastro A seguir, mostramos um pouco da obra do brasileiro Cláudio Pastro, que está toda baseada nas proposições do Concílio Ecumênico Vaticano II. As imagens aqui mostradas são parte do livro Arte Sacra, recentemente publicado pela Editora Paulinas. PLANETA – Toda sua obra é voltada para a arte sacra. O que levou você a escolher especificamente essa área? Cláudio Pastro – Primeiro, eu me formei em ciências sociais, em 1972, pela PUC. Depois, talvez por uma formação cristã muito boa e por influência de algumas pessoas, eu achei que deveria entrar pela arte sacra. Sobretudo porque, há 30 anos, essa área não era nada valorizada. Aliás, para o Brasil, a arte sacra é barroco, e barroco, na verdade, é arte religiosa. PLANETA – Qual a diferença básica entre arte religiosa e sacra? Cláudio Pastro – A arte sacra é objetiva, ela vem da essência do mistério da própria religião. A arte religiosa é devocional, é subjetiva; ela vem do freguês, que opta por esse ou aquele santinho; não tem nada a ver com o mistério do cristianismo. PLANETA – A arte sacra está mais ligada ao cristianismo primitivo... Cláudio Pastro – Primitivo e na essência. Se o Concílio Vaticano II foi ecumênico, ela busca a essência das coisas, principalmente trazendo uma ecumine com as demais religiões sobretudo cristãs – luterana, presbiteriana, etc. Quer dizer, é um concílio que pede a unidade, que se faz na essência do mistério. A arte religiosa é muito particular. Por exemplo, Nossa Senhora de Fátima é subjetiva do povo português; ela não faz nenhuma falta para o mistério da Igreja. Cláudio Pastro: busca pessoal que resultou em 30 anos de dedicação à arte sacra. PLANETA – Ao que parece, você foi criado muito próximo a padres, monges, mosteiros... Cláudio Pastro – Sim, mas eu nunca estudei em colégio católico, estudei sempre em colégio do Estado, que aliás eram ótimos. Quando eu tinha cerca de 20 anos, minha vontade era ser monge, mas não cheguei a ter nenhuma ligação grande com os mosteiros. Tive ligação com certos monges, com certas pessoas do cristianismo, que me ajudaram muito, principalmente na própria arte sacra. Eram pessoas de vanguarda na Europa, que eu tive a sorte de encontrar. Elas me alertaram muito para a linha do meu trabalho. PLANETA – Em 30 anos de profissão, você já pintou, reformou e concebeu arquitetonicamente mais de 230 igrejas e capelas no Brasil e no Exterior. Entre as suas obras, quais as que você elegeria como as principais, as suas preferidas? Cláudio Pastro - Uma das principais é a Capela das Andrelinas, aqui no Bairro da Pompéia, que é justamente a que abre meu livro – Arte Sacra. Ela é bem clean... PLANETA – Toda a sua obra é clean... Cláudio Pastro – Mas essa, em especial. Depois, a gente pode citar a capela dos beneditinos de Brasília, que tem uma boa concepção arquitetônica e litúrgica a partir do Concílio Ecumênico. Ele está no livro também. Um outro trabalho bonito, que está sendo extremamente mal usado, é a capela da Rede Vida de Televisão. Eu fiz um terno para o caipira usar... Os padres não sabem usá-la, são cafonas, não sabem o valor dos gestos, do espaço. O próprio diretor da Rede Vida é um caipirão que tem muito dinheiro... Uma outra igreja bonita é a catedral de Campo Limpo, na zona Sul de São Paulo. A arquitetura não é minha, mas o interior é meu. Nesse caso, eu trabalhei com o Fábio Gonçalves, que é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Eu gosto muito da Capela do Advento, na Alemanha; suas paredes são todas pretas... PLANETA – Você não teve uma educação artística, mas é escultor, pintor, faz arquitetura... Como você explica isso? Cláudio Pastro – Foi a minha busca, busca de criar espaços bonitos, expressivos dentro da Igreja católica. No início – eu comecei quando tinha cerca de 20 anos de idade –, eu buscava uma arte muito indígena e africana, bem primitiva. Eu queria caminhar naquela linha, porque não podia entender que o cristianismo no Brasil não pegou essa espiritualidade dos nossos índios e negros. Mas, assim que eu comecei a trabalhar, a Igreja católica me podou. Eu tenho de trabalhar para sobreviver, e as pessoas queriam aquela coisa melodramática, bonitinha, chorosa. Então, não pude avançar nessa área. Quando eu faço exposições na Europa, até que entro por aí. Os europeus se sentem felizes e compram adoidado. Mas aqui eu não posso nem ousar. Por outro lado, em termos de arte, eu trabalhei nos 30 piores anos da Igreja católica no Brasil. Nessa época, por causa da situação local – ditadura, pobreza, etc. –, a Igreja deu ênfase apenas à questão social, não se preocupando com o ser espiritual, com a linguagem espiritual, com a cultura cristã. Era só eu que me debatia. O que levei de pontapé de bispos e de padres que hoje me adoram... Você não pode imaginar como eu sofri. Hoje já há equipes de arquitetos e de artistas que estão sendo promovidos pela CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Eles começam a se destacar, mas estão encontrando “a cama pronta”, como a gente diz na linguagem mais simples; eu preparei tudo. PLANETA – Qual é, para você, a finalidade da arte sacra? Cláudio Pastro – A finalidade da arte sacra é permitir que o sagrado se manifeste ao homem, e não o contrário: o homem para Deus. PLANETA – Você diria, então, que ela é uma arte de inspiração divina? Cláudio Pastro – Na Igreja oriental, até hoje, e no primeiro milênio do cristianismo, a arte sacra e o artista faziam parte dos sagrados mistérios da Igreja. Logo depois do bispo, do padre, do diácono, vinha o artista, como um ministério dentro da Igreja. A partir do Concílio de Verona, a Igreja católica latina rompeu com o artista; ela o tirou do seu quadro de ministérios. Então, o artista foi se desenvolvendo como auto-suficiente. E aí surgiram Humboldt, Giotto, mais tarde Michelangelo, Rubens, Rafael, etc. Esses já são artistas autônomos, dos quais a Igreja se aproveitou. O padre estava precisando fazer uma pintura na sua igreja e convidava um artista famoso, Michelangelo, por exemplo. Necessariamente ele não tinha de ter fé, não tinha de fazer parte dos sagrados ministérios, etc. Ele era simplesmente um grande artista. Esses artistas trabalharam muito na Igreja católica latina e não passaram uma arte sacra, mas uma arte religiosa, que é muito mais humana do que divina. Ela é muito mais reflexo do próprio artista, de sua concepção do que vem a ser o sagrado, o religioso como manifestação, quer dizer, não há a universalidade da arte sacra.
Ele é o responsável pelas peças que serão usadas por Francisco em sua visita ao Brasil