Não é fácil falarmos da nossa cidade, da cidade onde nascemos e vivemos, sem um sentimento de se estar a violar os terrenos íntimos e secretos das emoções e dos afectos, por ruas, casas, pedras, um rio, as pessoas e a luz e, claro, os cheiros e as comidas que são a nossa história. Espinhosa portanto, para mim, a tarefa para esta 126ª Trilogia em que eu, a Ana e o Amândio, teremos como tema a minha querida e belíssima cidade de Lisboa e os seus comeres. Pior foi encontrar uma comida de Lisboa que não estivesse já no Outras Comidas, o Bacalhau à Brás, o Cozido, as pataniscas, pastéis de bacalhau, enfim, as comidas que cá se fazem, naturalmente, já cá estão; e surgiu então a lembrança de um doce que, como muitos outros, era usual nos tempos da minha infância mas que o tempo, os afazeres e alguma preguiça, atiraram para o rol das coisas que se compram feitas: a torta de laranja. As tortas de laranja que hoje se vendem por aí, são algo de muito mau, cheias de aromas, farinha, corantes e outras coisas com nome que até custa a dizer, de tal sorte que até passaram para a categoria dos bolos de fatia, quando as originais sempre foram consideradas doce de colher, tudo aquilo feito de ovos, mole e bom. Ingredientes: 6 ovos 1 c. sobremesa de amido de milho 2 dl de sumo de laranja Raspa de uma laranja 270g de açúcar + açúcar pilé para envolver Preparação: Misture todos os ingredientes, excepto o açúcar de envolver, e leve a cozer em forno brando por cerca de vinte minutos, numa forma untada de manteiga e polvilhada de açúcar ou, em alternativa numa forma untada e forrada com papel vegetal também untado. Espalhe o açúcar pilé num pano e volte sobre ele a torta. Retire o papel vegetal e, com o auxílio do pano, enrole a torta e passe-a para o prato de servir. Leve a arrefecer bem antes de servir.